O Cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá.

terça-feira, agosto 25, 2009

Sr. Autómato

Estas "férias" fiquei a trabalhar. É por uma boa razão, digo eu. Equilibrar a situação financeira da empresa e a minha por consequência. Até aqui zero de desmoralização. Sou empenhado no que faço e consigo trabalhar em muitas coisas (em simultâneo também), sem tensões acumuladas e sem me cansar com aquele cansaço de que quem cai não se levanta.
Quando me levanto de manhã sei já as minhas prioridades para o dia que começo logo a executar, até alguém me ligar e me dar novas prioridades, e passo o dia a correr para conseguir dar resposta a tudo. Claro que ficam sempre coisas por fazer, mas faço as mais importantes e tenho tudo minimamente controlado. E como é que consigo isto? Porque acumulei experiência e tenho rotinas para tudo. O meu cérebro já sabe o que fazer automaticamente e o meu corpo responde de acordo. É preciso ir buscar isto? Mete-te no carro, dirige, chega lá, pega, traz.
É preciso passar ou receber informação? Esquematiza, regista, envia, comunica, obtém.
É preciso este projecto para produzir? Desenha, detalha, imprime.
E o meu dia são uma série de rotinas que eu executo na perfeição, tal a é a minha experiência (e a minha resiliência).
Qual é o mal disto tudo? Perdi a capacidade de pensar. Eu executo segundo um reflexo, mas já não reflicto sobre o que faço. O meu corpo está tão treinado que se calhar passo o dia inteiro a executar de forma automática, e quando chego ao fim do dia se calhar nem sei o que fiz. È sair de casa e voltar sem aprender nada de novo.
Valorizo imenso o conhecimento. Neste momento sou um autómato, muito bem preparado com sub-rotinas para todas as contingências, mas que não foge ao programa, um verdadeiro Sr. Autómato. Durante a tarefa não paro para pensar: Poderei fazer melhor? Porque é assim? Vantagens e desvantagens deste método? Toda a aprendizagem do meu dia a dia está a ser perdida, porque o meu cérebro está em automático.
Mas será que a vida não é mesmo assim? Começamos com um cérebro vazio, espaçoso, capaz de tudo aprender, mas que ao longo da vida se vai especializando, adquirindo rotinas, que nos permitem existir sem saber. Aprendemos a conduzir e isso exige-nos uma grande concentração. Ao fim de uns anos podemos ir a conduzir e a falar sem que isso nos perturbe. Entramos num novo emprego, e temos que aprender todos os processos que teremos que executar, e isso exige grande concentração. Ao fim de uns anos nesse emprego levantamos-nos de manhã, vamos para o trabalho, voltamos e nem pensamos no que fizemos. O nosso cérebro automatiza-se. Isso facilita-nos a vida. Mas de certo que o que se torna num processo inconsciente tem que nos roubar capacidade de intelecto. Não dispomos do mesmo número de neurónios para a reflexão no que é novo. É matemático, temos mais neurónios a processar o automático, sobram menos chispas cerebrais para aprender coisas novas.
Tornamos-nos eficazes mas limitados. È um fim triste.