Tenho um amigo que está envolvido numa
relação doentia. O desgraçado ama uma mulher que não o merece. O
problema é que ele não consegue ver isso e ainda pior é que em
todo o circulo de amigos dele, eu pareço ser o único a reconhecer a
insanidade da relação. Todos os outros o incentivam, declaram que
ele encontrou a mulher perfeita e que vale tudo para fazer aquele
amor continuar. Mesmo que isso implique humilhar-se, dobrar-se e
sofrer por ela.
A mulher é uma verdadeira sádica.
Quanto mais ele se humilha mais ela exige dele, inventando novas
formas de o torturar das formas mais distorcidas e rebuscadas. Ele
ajoelha-se, ele arrasta-se para ela, ele chora, mas ela sempre com a
mesma atitude de que ele tem que lhe provar o amor sofrendo...
Acreditem que já o vi de joelhos esfolados à frente dela, a
penitenciar-se. Mas valeu-lhe de alguma coisa? Não teve mais nenhuma
graça dela por causa disso, garanto-vos. Apenas aumentou o nível de
escravidão e subserviência...
E quando começou a dieta forçada? Não
compreendo muito bem como ela o conseguiu levar aquilo , mas
como seria possível alguém como eu perceber uma mente tortuosa? O
facto é que certo dia, ele começou a notar-se mais magro,
questionamos-lo, porque não era uma magreza saudável, ao invés de
estar elegante e bonito, ele estava ossudo, com a pele cinzenta e os
olhos encovados, e ele confessou-nos que ela lhe pediu para fazer uma
dieta à base de raízes e saladas de azedas... Horrível,
intragável, nem é comida para seres humanos... O facto é que ela
lhe justifica sempre que os sacrifícios que ele faz são pelo amor
dela e que beneficiam a todos, mas no fundo são apenas mais uma
forma de explorar novos níveis de dor e sofrimento.
Uma coisa habitual que ela lhe faz
todos os anos por altura das férias, são as caminhadas. Dito isto
parece saudável, mas eu mostro já onde isto se distorce. O
desgraçado aproveita sempre para tirar férias entre Maio e Outubro
e ainda antes do meio do mês, lá está ele nas caminhadas que mais
parecem trabalhos forçados. Penso que deve ser uma forma para não o
aturar em casa, pois ela leva-o a fazer caminhadas que demoram dias,
ao longo de centenas de quilómetros, por estradas perigosíssimas.
Ela dá-lhe um colete refletor (como se isso lhe valesse de muito nas
estradas com os carros a cruzarem-se com ele a 90Km/h) e manda-o
caminhar. E lá vai o desgraçado de manhã à noite a romper solas,
cheio de bolhas e a mancar, para longe dela, mas achando que está a
caminhar para ela...
A minha opinião e penso a de qualquer
pessoa razoável, é que se ela gostasse mesmo dele lhe dava paz,
carinho verdadeiro e não o maltrataria. Claro que se ele ouvir isto,
começa a disparatar defendendo-a... Síndrome de Estocolmo?! Não
consigo pensar noutra coisa para explicar este amor doentio...
Eu não sou dono da razão, mas sou uma
pessoa não dogmática e critica que sabe observar de uma forma
isenta e verificar onde está o razoável e onde se entra no
disparate. Esta adoração é um disparate. Alguém que nos ame não
nos pede sacrifícios só como prova de amor. Alguém que nos ame não
nos quer ver sofrer e não o justifica com o argumento que o nosso
sacrifício e dor pessoal é para o bem maior. Alguém que nos ame
poupa-nos da dor, ajuda-nos, ensina-nos, exemplifica-nos valores de
moral. Qual é a moral de tudo isto?
Apesar de todo o meu testemunho e
factos que apresentei, tenho a certeza que não o consegui convencer
e que no nosso grupo de amigos vou continuar a ser eu que consideram
estar errado. Mas eu limitei-me a apresentar factos e tudo o que
disse por mais surreal que possa parecer é verdadeiro.
Vá lá amigo, deixa a Maria de Fátima
que ela não te merece.