O Cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá.

terça-feira, agosto 20, 2013

O que é o teatro para mim...

A primeira coisa que me ocorre é que o teatro é arte. Mas o teatro é muito mais; o teatro é o mundo num palco, é um sentimento verdadeiro que passa por fingido, é um desabafo sabendo que nos ouvem, é poder chorar, rir e fazer coisas humanas que preciso fazer e não consigo, é ter calor de uma família maior, são os amigos que temos no palco e fazemos fora dele, é a repetição ensaiada da vida até que o plano dê certo. Tudo isto e muito mais é o teatro.
Mas para mim o teatro é ainda divã de doutor, onde me deito, relaxo e me liberto. Onde colocando a máscara sou autêntico. No teatro eu posso ser louco, como sou, e encontro a sanidade. No teatro eu confesso verdades profundas do meu ser, expurgo-as cá para fora, livro-me do mal que me corroí e fico sem mácula.
O teatro é também um tubo de ensaio, um laboratório e universidade. Onde o inventor e cientista em mim pode experimentar. Crio a acção e observo a reacção. Posso fazer experiências sociais. Posso testar as minhas capacidades e as do mundo. Questiono o meu igual, registo a resposta e aprendo sobre mim. A experiência teatral vive da mistura do diálogo com a acção, da situação com a emoção, num cenário controlado debaixo da iluminação que cada acontecimento da vida merece. O teatro levanta a hipótese do que o mundo é, gera a teoria e prova com certeza a tese.
Tudo isto é teatro para mim. Mas o teatro não é só para mim. O teatro é para o meu igual, que ora usa o titulo de actor, ora de técnico, ora de público. O teatro é para todos estes. E todos podem ser estes.
Para o espectador o teatro permite-lhe assistir ao sonho estando acordado. O sonho que foi escrito, encenado e representado por outro. Para ele o teatro faz-lo sentir a emoção, a alegria e o riso, o choro e a revolta, dá-lhe a oportunidade de criticar o bem e o mal, de o observar de fora, ensina-lhe a moral e o escândalo, dá-lhe a escolha de qual quer ter e ser. O teatro demonstra a virtude e o defeito, apresenta o demónio e o anjo, o efeito e a consequência.
O teatro é ainda uma família. Uma família global tão grande que nem é possível conhecer, mas também uma irmandade local com quem vivo aventuras, verdadeiras no palco e verdadeiras cá fora. Com quem bebo, com quem debato, com quem ensino, com quem aprendo. São irmãos com quem partilho quartos, sofás e refeições... São as pessoas que me acompanham a sítios novos, que se se abrigam comigo da chuva e partilham o sol.
Tudo isto é teatro, mas teatro é ainda mais.

quarta-feira, maio 08, 2013

Dobra-te, humilha-te e sofre para provares que me amas!

Tenho um amigo que está envolvido numa relação doentia. O desgraçado ama uma mulher que não o merece. O problema é que ele não consegue ver isso e ainda pior é que em todo o circulo de amigos dele, eu pareço ser o único a reconhecer a insanidade da relação. Todos os outros o incentivam, declaram que ele encontrou a mulher perfeita e que vale tudo para fazer aquele amor continuar. Mesmo que isso implique humilhar-se, dobrar-se e sofrer por ela.

A mulher é uma verdadeira sádica. Quanto mais ele se humilha mais ela exige dele, inventando novas formas de o torturar das formas mais distorcidas e rebuscadas. Ele ajoelha-se, ele arrasta-se para ela, ele chora, mas ela sempre com a mesma atitude de que ele tem que lhe provar o amor sofrendo... Acreditem que já o vi de joelhos esfolados à frente dela, a penitenciar-se. Mas valeu-lhe de alguma coisa? Não teve mais nenhuma graça dela por causa disso, garanto-vos. Apenas aumentou o nível de escravidão e subserviência...
E quando começou a dieta forçada? Não compreendo muito bem como ela o conseguiu levar aquilo , mas como seria possível alguém como eu perceber uma mente tortuosa? O facto é que certo dia, ele começou a notar-se mais magro, questionamos-lo, porque não era uma magreza saudável, ao invés de estar elegante e bonito, ele estava ossudo, com a pele cinzenta e os olhos encovados, e ele confessou-nos que ela lhe pediu para fazer uma dieta à base de raízes e saladas de azedas... Horrível, intragável, nem é comida para seres humanos... O facto é que ela lhe justifica sempre que os sacrifícios que ele faz são pelo amor dela e que beneficiam a todos, mas no fundo são apenas mais uma forma de explorar novos níveis de dor e sofrimento.
Uma coisa habitual que ela lhe faz todos os anos por altura das férias, são as caminhadas. Dito isto parece saudável, mas eu mostro já onde isto se distorce. O desgraçado aproveita sempre para tirar férias entre Maio e Outubro e ainda antes do meio do mês, lá está ele nas caminhadas que mais parecem trabalhos forçados. Penso que deve ser uma forma para não o aturar em casa, pois ela leva-o a fazer caminhadas que demoram dias, ao longo de centenas de quilómetros, por estradas perigosíssimas. Ela dá-lhe um colete refletor (como se isso lhe valesse de muito nas estradas com os carros a cruzarem-se com ele a 90Km/h) e manda-o caminhar. E lá vai o desgraçado de manhã à noite a romper solas, cheio de bolhas e a mancar, para longe dela, mas achando que está a caminhar para ela...

A minha opinião e penso a de qualquer pessoa razoável, é que se ela gostasse mesmo dele lhe dava paz, carinho verdadeiro e não o maltrataria. Claro que se ele ouvir isto, começa a disparatar defendendo-a... Síndrome de Estocolmo?! Não consigo pensar noutra coisa para explicar este amor doentio...

Eu não sou dono da razão, mas sou uma pessoa não dogmática e critica que sabe observar de uma forma isenta e verificar onde está o razoável e onde se entra no disparate. Esta adoração é um disparate. Alguém que nos ame não nos pede sacrifícios só como prova de amor. Alguém que nos ame não nos quer ver sofrer e não o justifica com o argumento que o nosso sacrifício e dor pessoal é para o bem maior. Alguém que nos ame poupa-nos da dor, ajuda-nos, ensina-nos, exemplifica-nos valores de moral. Qual é a moral de tudo isto?

Apesar de todo o meu testemunho e factos que apresentei, tenho a certeza que não o consegui convencer e que no nosso grupo de amigos vou continuar a ser eu que consideram estar errado. Mas eu limitei-me a apresentar factos e tudo o que disse por mais surreal que possa parecer é verdadeiro.
Vá lá amigo, deixa a Maria de Fátima que ela não te merece.