Nasceu a Beatriz. A minha filha nasceu. Ao escrever isto ela ainda não tem 24 horas fora da barriga da mãe. È dificil ao dizer a frase anterior não a terminar com "24 horas de vida", mas estava errado se dissesse assim.
Nestas primeiras 24 horas de vida no exterior da Beatriz ela vive imensas experiencia novas, momentos unicos e maravilhosos que se vão repetir para o resto da sua vida, e que nós que já os tomamos como tão certos que até nos esquecemos do maravilhoso dessas experiencias: respirar ar; ver a luz do dia; tocar em objectos; comer; vestir roupa... são tudo coisas novas para a minha filha.
Mas seria errado se dissesse que a vida dela começou há menos de 24 horas. Na minha qualidade de ser humano há coisas que nunca saberei, e uma delas é definir concretamente quando começou a vida dela. Se calhar começou quando as células no seu embrião adquiriram especialidades e se distinguiram umas das outras. Se calhar começou ainda antes, quando o óvulo foi fecundado. Ou se calhar a Beatriz sempre existiu dentro de mim e da Mafalda à espera de nascer. Se calhar a Beatriz existe desde que a primeira molécula (aqui na Terra ou em outro lugar) ganhou capacidade de se autoreplicar... A vida é ininterrupta, desde que ela apareceu ainda não deixou de existir. E a vida é uma propriedade que nós temos e que partilhamos com toda a humanidade e todos os outros seres vivos da Terra. A vida de todos descende da mesma vida. È um elo de união profundo no tempo.
E agora a Beatriz nasceu. Estou feliz. Pensei que ia chorar. Mas não aconteceu. Senti amor. Amo a minha filha mais do que algoutro (as palavras também nascem). Esta noite não dormi, não porque ela tivesse chorado, ela foi calminha toda a noite, mas por protecção. Toda a noite estive atento a ela, a cuidar dela, a vigiá-la. Estarei assim para o resto da minha vida. Serei um seu grande amigo e professor.
Amo-te Beatriz.