O Cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Beatriz.


Nasceu a Beatriz. A minha filha nasceu. Ao escrever isto ela ainda não tem 24 horas fora da barriga da mãe. È dificil ao dizer a frase anterior não a terminar com "24 horas de vida", mas estava errado se dissesse assim.
Nestas primeiras 24 horas de vida no exterior da Beatriz ela vive imensas experiencia novas, momentos unicos e maravilhosos que se vão repetir para o resto da sua vida, e que nós que já os tomamos como tão certos que até nos esquecemos do maravilhoso dessas experiencias: respirar ar; ver a luz do dia; tocar em objectos; comer; vestir roupa... são tudo coisas novas para a minha filha.
Mas seria errado se dissesse que a vida dela começou há menos de 24 horas. Na minha qualidade de ser humano há coisas que nunca saberei, e uma delas é definir concretamente quando começou a vida dela. Se calhar começou quando as células no seu embrião adquiriram especialidades e se distinguiram umas das outras. Se calhar começou ainda antes, quando o óvulo foi fecundado. Ou se calhar a Beatriz sempre existiu dentro de mim e da Mafalda à espera de nascer. Se calhar a Beatriz existe desde que a primeira molécula (aqui na Terra ou em outro lugar) ganhou capacidade de se autoreplicar... A vida é ininterrupta, desde que ela apareceu ainda não deixou de existir. E a vida é uma propriedade que nós temos e que partilhamos com toda a humanidade e todos os outros seres vivos da Terra. A vida de todos descende da mesma vida. È um elo de união profundo no tempo.
E agora a Beatriz nasceu. Estou feliz. Pensei que ia chorar. Mas não aconteceu. Senti amor. Amo a minha filha mais do que algoutro (as palavras também nascem). Esta noite não dormi, não porque ela tivesse chorado, ela foi calminha toda a noite, mas por protecção. Toda a noite estive atento a ela, a cuidar dela, a vigiá-la. Estarei assim para o resto da minha vida. Serei um seu grande amigo e professor.
Amo-te Beatriz.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

O amor é maravilhoso.

As histórias de amor são maravilhosas.
Ando realmente a passar por uma altura da minha vida favorecida em optimismo: A vida é maravilhosa; O amor é lindo; e agora as histórias de amor são maravilhosas.
Mas é verdade tudo isto. Os sentimentos que enchem o coração do Homem são virtuosos. E apenas estou a passar por uma época da minha vida com o desafogo suficiente para poder parar a observar estas realidades.
As histórias de amor são maravilhosas. Especialmente se estivermos a falar de romance e de amor verdadeiro. Quando duas pessoas se amam, o amor entre eles justifica tudo. Ou quase tudo. Mas desde que sejam verdadeiros ao amor e o amor seja verdadeiro, penso que posso dizer que tudo se justifica.
È uma ferramenta muito poderosa o amor. Grandes Homens já descobriram isso. E usaram essa ferramenta em proveito da humanidade para fazerem grandes coisas. Falo de Homens como Jesus Cristo, Mahatma Ghandi ou Madre Teresa de Calcutá... Tenho que usar reticências pois felizmente houveram vários Homens que souberam amar.
Mas as histórias de romance também são maravilhosas. Encantam o nosso coração. Enchem-nos de alegria. Quando amamos ouvimos rouxinois a cantar e o céu tem sempre um arco-íris. Ficamos optimistas. E a humanidade também beneficia disso. Ninguém mata se ama. Só se mata por ódio.
As histórias de amor são maravilhosas.

sábado, dezembro 24, 2005

Culpa das circunstâncias.

As circunstâncias são as culpadas. Seja o que for que tiver acontecido são sempre as circunstâncias. E não estou a tentar ser satírico, é mesmo assim: as circunstâncias são as culpadas.
Um homem comete um crime. Quem é culpado? Seja por que lado que se faça a análise são as circunstâncias! Se ele foi apanhado numa vida de crime, enredado por um meio social degradante onde não teve oportunidades de vida, quem é o culpado? As circunstâncias! Se ele cometeu um crime provocado por fúria, vingança ou até ciúme, quem é o culpado? As circunstâncias! Se as circunstâncias não tivessem sido essas toda a história era diferente.
È triste que seja assim porque dá a parecer que não controlamos a nossa vida. De certa forma não controlamos, temos que nos adaptar. Não quero parecer demasiado paranóico, mas nascemos numa hora e local que não controlamos, e não estou a falar de hora num sentido estrito em que na vez de nascermos a 14 de Agosto nascemos a 15, estou mesmo a pensar na época, a diferença entre nascermos na idade média ou no tempo actual influência a nossa vida de forma brutal, mas a probabilidade de nascimento numa ou noutra época é a mesma.
E o meio ambiente que nos rodeia também é um fruto do acaso e das circunstâncias.
As circunstâncias são a parte mais pequena do caos. A combinação delas todas traça um destino imprevisível.
Foi o Romeu e a Julieta que me fizeram pensar nisto tudo. Eram os dois jovens, conheceram-se, eram de bom coração, apaixonaram-se e se dependesse apenas deles o seu destino tinham sido felizes e vivido aquela raridade que é o Amor Verdadeiro. Mas não foi assim. Nem mesmo na ficção em que tudo podia ser perfeito, até aí as circunstâncias estiveram contra eles. As circunstâncias disseram que as suas famílias eram opositoras e o amor proibido. Quantos casos hão assim que não são ficção? Quantos amores proibidos pelas circunstâncias familiares ou pela época de nascimento?
As circunstâncias são o maior adversário da felicidade.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Natal.

Acho que está na altura de falar no natal. Para mim este ano é um tema duplamente pertinente. Natal porque é um feriado comercial. Natal porque a minha filha nasce brevemente.
Desculpem-me o humor corrosivo em relação ao feriado comercial. É uma verdade apesar. Que lembra às pessoas quando se fala em Natal? Prendas! Comércio portanto. O que é bom, eu sou comerciante. E dar prendas é bom, é uma acção altruísta. Receber prendas também é bom!
Mas depois há o outro lado do natal, aquele que deu origem à palavra, o nascimento. Não vou falar do nascimento do galileu, foi um bom homem, mas apenas isso, para mim importante é o nascimento da minha filha. É a minha primeira filha. E ela nasce na semana a seguir ao natal, o feriado claro.
Se nascer no dia 27 como programamos, vai nascer no mesmo dia de pessoas famosas no meu tempo, tais como Gerard Depardieu, Marlene Dietrich ou Louis Pasteur.
Vai-se chamar Beatriz. Encontrei na web referencias que me indicam que "Beatriz" vem de bem disposta e aquela que faz os outros felizes, também encontrei informação que me dizia que a origem do nome estará no latim para "Bem-Aventurada". Sei também que foi o nome de várias rainhas e de muitas infantas de Portugal. Mas o que a Beatriz vais ser sem duvida é a minha princesa. Amo-te Beatriz e amo-te Mafalda (mamã).

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Amor e paixão.

Amar ou apaixonar-se? São coisas parecidas, ambos são sentimentos de bem-querer, mas a forma de se expressarem são bastante diferentes. O amor está para a paz tal como a paixão está para uma batalha. A paixão é intensa, enquanto que o amor é pleno. A paixão não é tão completa nem satisfatória como o amor, no entanto faz-nos viver mais aceleradamente, palpitando e desejando pela pessoa amada.
Estes dois sentimentos estão interligados e são uma sucessão um do outro. Quando a paixão nos começa a roer, se o destino for nosso amigo esse sentimento pode-se transformar em amor verdadeiro. Se o destino não for nosso amigo… o desespero sucede onde deveria aparecer o amor.
Mas também no amor pode surgir a paixão. Até para um casal na plenitude do seu amor pode, e é bom que sim, surgir a paixão. È um estimulo para uma relação longa, provocando o renascimento da fagulha do desejo.
No entanto o amor parece-me mais amplo que a paixão. A paixão parece-me estar ligada a situações apenas de romance (não desvalorizando os martírios, mas no romance também se passa martírios). O amor é uma aura envolvente que nos liga a muitos entes diferentes. Quero dizer que o amor é mais completo. Amar é atingir uma espécie de nirvana terreno.
Bom mesmo, era sentir a intensidade da paixão em conjunto com a paz do amor. Mas parecem coisas opostas não é? O que significa que quando sentimos ardor deve ser paixão. Quando sentimos que o mundo é lindo amamos. E vivemos nesta dualidade. Mas as coisas não simplificam. Só complicam, porque os sentimentos não param por aqui, Juntamente com estes vêm o ciúme, o desejo, a fidelidade, a infidelidade…
Amo a paixão.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

A felicidade de estar vivo.

Estou feliz por estar vivo. A maior parte dos meus conhecidos sabem que sou ateu. A maior parte deles não é ateu. Os mais simples perguntam-me se eu acho então que a vida é só isto, perguntam-me se acho que não há mais nada?...
Penso que algumas pessoas que são ateias tornaram-se assim por estarem desiludidos com deus (perdoem-me os crentes a minúscula) e frustrados com a vida. E ao perderem a fé só se metem num fosso maior. Ser ateu é tal como na religião acreditar num dogma. Um dogma mais natural mas também mais vazio. Não se encontram pontos de apoio espirituais no ateísmo. Desfazem-se esses pontos de apoio. È preciso reavaliar os nossos valores, aprender a separar o que é moral do que é doutrina. Para quem entra no ateísmo por motivos científicos como eu, o mesmo método que nos levou lá, ajuda-nos a fazer essa reavaliação. Para quem caiu no fosso, sem método, afunda-se.
Eu gosto de pensar que no meu caso a vida afiou-se. Fiquei mais vivo. Aprendi a admirar o universo à minha volta com olhos apaixonados. Já não preciso de deus para ficar maravilhado. Pensar que a vida se formou e existe sem intervenção divina é ainda mais maravilhoso do que a forma teológica.
Claro que como todas as pessoas tive períodos mais negros. A idade média das pessoas. Por destino esse período coincide com a adolescência. È uma idade confusa em que temos dúvidas, medos, incertezas, tal como o Rui dizia “…parece que hoje é Janeiro, está um frio de rachar…”. Mas felizmente tive amigos e pais que me ajudaram parcialmente, o resto a vida ensinou-me.
O ponto sensível do ateísmo é discernir que se nada é pecado continua na mesma a haver coisas que são erradas. Sensível porque se o ateísmo é negar a existência de deus(es) cai-se na facilidade de negar as doutrinas associadas também. È uma linha muito ténue. E negar essas doutrinas é errado. Primeiro porque os mandamentos mais importantes de qualquer religião baseiam-se em princípios cívicos e morais que não se tornam errados pelo ateísmo. Segundo porque as religiões baseiam-se nas palavras transmitidas por homens, e se as religiões elevam esses homens a deuses não deixam de ser homens pelo facto de o ateísmo negar deuses, mantêm-se homens e as suas palavras continuam válidas.
Tenho amigos que argumentam que se não me acredito em deus porque não o posso ver (não é apenas por isso, porque senão também não me acreditava em átomos) como posso explicar o amor?! Também não me poderia acreditar no amor, segundo eles. È realmente complicado traçar essas definições. Se recorrer unicamente ao cientista e naturalista dentro de mim, desprezo o amor e pareço um anormal frio e sem sentimentos. Se quero ser humano e não posso ignorar o amor, eles caem-me em cima com o argumento que deus é amor, e por isso eu sinto a deus logo ele existe. Também sinto a dor, será isso o demónio? Então eles são politeístas porque se cada sentimento é um deus, caímos no tempo dos romanos, com um deus para cada virtude.
O amor é maravilhoso. Amar é ser humano. Continuo a não me acreditar em deus e acredito-me à mesma no amor. Não preciso de o ver para isso. Também não é por ver a deus que não me acredito nele. Não me acredito porque prefiro um universo governado pela nossa vontade e não pela vontade omnipresente e toda poderosa. Faz mais sentido o livre arbítrio e a origem natural sem interferências divinas do que a outra versão.
E isso aguça-me os sentidos para a raridade e maravilha que é estar vivo. Amo a vida.

terça-feira, dezembro 13, 2005

Ser humano.

A espécie humana é maravilhosa. Todo o planeta Terra é maravilhoso. Mas o Homem sobressai. Somos fruto de um longo processo de evolução com soluções admiráveis por parte da natureza. Somos ágeis e fortes apenas o suficiente para nos desenrascarmos no meio selvagem. Mas destacamo-nos porque temos características únicas e engenhosas. Partilhamos da capacidade dos mamíferos de amar e de proteger os seus. Desta forma os elementos que por si só seriam de frágil sobrevivência apoiam-se entre si permitindo a sobrevivência de toda a espécie.
E essa capacidade de amar é maravilhosa. Ainda mais porque podemos amar conscientemente. Isso permite-nos juntar o coração ao intelecto e é assim que nasce a arte. Não imagino de que forma poderíamos gostar de música, de poesia, de teatro, senão fosse porque somos capazes de amar.
Acredito-me piamente na vida extraterrestre. Não me acredito em ovnis, obviamente. O que limita a possibilidade de contactos. Mas não deixo de imaginar as coisas maravilhosas que poderíamos descobrir sobre nós próprios se tivéssemos a possibilidade de um contacto com quem não é como nós. Estamos habituados a nós próprios, á nossa história, e banalizamos características que são maravilhosos e quem sabe únicas no universo.
As soluções da natureza tendem a repetir-se em situações isoladas, como exemplo temos as baleias que sendo inicialmente mamíferos terrestres ao voltarem ao mar adquiriram barbatanas tal como os seus vizinhos peixes, e não as copiaram destes nem o conseguiriam fazer, foi apenas uma solução natural.
Provavelmente não podemos dizer que os mamíferos terrestres são os únicos seres no universo capazes de amar, a solução do amor deve ter surgido várias vezes. Mas há tanta coisa maravilhosa sobre nós que muitas vezes desvalorizamos, banalizamos e não entendemos. E o conjunto dessas características é único. Os Homens são únicos, e o amor é maravilhoso.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

A virtude mais forte.

Sou um leitor de flogs, e sinto-me fascinado com todos os pedaços de pessoalidade e personalidade que por ali se transmitem. Mas nunca me senti tentado a criar um. Talvez porque o que mais valorizo é a palavras. Mas numa das minhas ultimas visitas a um flog encontrei um texto sobre o amor que me fez ter vontade de exprimir também a minha opinião aobre o assunto para todo o mundo poder ler.
Terminei à pouco tempo a minha peça "Auto do Monte Olimpo". Nela retrato os valores da sociedade e o valor que cada virtude pode ter dependendo da forma que é usada. A peça mostra que quando se entra em exageros a felicidade nunca pode ser encontrada. E é o mais pequeno dos deuses do Olimpo que resolve toda a questão. Eros, mais conhecido como Cupido romano, provoca o amor onde antes só havia frieza e violência. E isso gera felicidade.
Na nossa vida não existem setas de Cupido, a paixão acontece de formas estranhas e quando menos é esperado, mas o amor que deriva da paixão pode ser construido. Não podemos controlar o coração, se ele quiser-se apaixonar e sofrer não há nada a fazer. Mas podemos ter consciencia de que podemos definir as condições em que isso acontece. Se usarmos a razão podemos prever até que ponto será boa ou má determinada paixão, e podemos negar ou aceitar esse amor. E podemos também tentar encaminhar o amor e adaptá-lo à felicidade mutua. As pessoas são diferentes, mas ao amarem transformam-se. Nós podemos provocar essa transformação em nós e no nosso par. Ser capaz de se adaptar é em si uma prova de amor e dedicação, de querer ser melhor para com quem se ama.
Isto tudo aplica-se aos próprios apaixonados, mas tudo seria muito simples no amor se resumisse assim. Só que o amor não é simples, se assim fosse nunca teria havido uma história como a de Romeu e Julieta. Os apaixonados podem aprender a gostar e fazer-se gostar pelo parceiro, mas mudar o mundo à volta deles já é demais. E infelizmente muitas vezes o amor surge em condições adversas. O sentimento é lindo e maravilhoso mas os terceiros não o aceitam.
E fazer o quê? Não sei. Como todos, ainda ando à procura da solução. Não sei se ela será lutar pelo amor, ou resignar-se e aceitar as coisas como são. Devia ser lutar pelo amor. Supostamente é a coisa mais importante. Mas não é. O mais importante é estar vivo. Viver. Nem que viver seja sem o nosso amor. O amor vai e vem ciclicamente. A vida não. Não quero parecer que o amor é secundário, apenas que às vezes não é possivel amar como queriamos. Temos que ser racionais e aceitá-lo. Ao menos dessa forma disfrutamos do que é possivel.
Ou viver o amor em segredo. Não me parece a solução perfeita. Mas o Romeu e a Julieta fizeram-no. Claro que tiveram um fim triste. No final estamos sempre dependentes do mundo que nos rodeia, e por mais que nos moldemos e adaptemos estamos dependentes da sorte que nos confere.

Fernando Pinheiro 12-12-2005