O Cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá.

terça-feira, agosto 24, 2010

As borboletas morrem sozinhas

Passou por mim uma borboleta a esvoaçar, e por um instante o meu coração encheu-se de maravilhamento pela beleza, pela leveza e liberdade daquele insecto. Despreocupada a borboleta voava paralela ao verde da mata, sem destino aparente, de certeza sem saber o que a esperava, mas com certeza teria tudo o que precisava por ali. Podia fazer aquilo para que as borboletas são feitas, sendo feliz na sua simplicidade. Confesso que senti um bocadinho de inveja da liberdade e felicidade ali inerente.

Mas depois deste momento maravilhoso a minha mente racional pôs-se a ponderar sobre a vida do insecto. E pensei, onde morreria este bicho? Para ela não é preocupação isso, mas não deixa de ser realidade. Algures naquela mata, em que ela ainda se poderia alimentar na flor que escolhesse, estaria o seu fim. Voará, alimentará-se e quando o seu frágil corpo não puder mais, tombará e ficará por ali. Sem túmulo, sem ninguém saber que existiu, nem os da sua espécie, qual árabe tombado no deserto. E perdi o maravilhamento. Tudo tem um preço. A liberdade total significa independência total, despreendimento total, de tal forma que até ao fim estamos sozinhos.

O ser humano não é feito para estar sozinho. Precisa de alguém que o acompanhe, precisa de amigos, precisa de família, só com esses laços pode ser feliz. E no momento do tombar, precisamos de alguém que tome conta de nós, que nos vele e que nos chore. Claro que isso não justifica nada, mas para vivermos em paz com a nossa consciência precisamos de pensar em vida que na morte seremos lembrados.

Nós não somos borboletas, podemos admirá-las e invejá-las, mas temos que ter a vida que se adequa ao nosso ser. Temos que ter laços e responsabilidades e com isso estarmos presos a um local, a uma forma de vida, mas é a forma de vida que nos permite ser felizes. Voar até morrer e cair para o lado pode ter um lado poético, mas afasta-se da nossa fórmula da felicidade.

Viver feliz é viver acompanhado.

1 comentário:

Luísa Nunes disse...

concordo plenamente.