O Cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

A felicidade de estar vivo.

Estou feliz por estar vivo. A maior parte dos meus conhecidos sabem que sou ateu. A maior parte deles não é ateu. Os mais simples perguntam-me se eu acho então que a vida é só isto, perguntam-me se acho que não há mais nada?...
Penso que algumas pessoas que são ateias tornaram-se assim por estarem desiludidos com deus (perdoem-me os crentes a minúscula) e frustrados com a vida. E ao perderem a fé só se metem num fosso maior. Ser ateu é tal como na religião acreditar num dogma. Um dogma mais natural mas também mais vazio. Não se encontram pontos de apoio espirituais no ateísmo. Desfazem-se esses pontos de apoio. È preciso reavaliar os nossos valores, aprender a separar o que é moral do que é doutrina. Para quem entra no ateísmo por motivos científicos como eu, o mesmo método que nos levou lá, ajuda-nos a fazer essa reavaliação. Para quem caiu no fosso, sem método, afunda-se.
Eu gosto de pensar que no meu caso a vida afiou-se. Fiquei mais vivo. Aprendi a admirar o universo à minha volta com olhos apaixonados. Já não preciso de deus para ficar maravilhado. Pensar que a vida se formou e existe sem intervenção divina é ainda mais maravilhoso do que a forma teológica.
Claro que como todas as pessoas tive períodos mais negros. A idade média das pessoas. Por destino esse período coincide com a adolescência. È uma idade confusa em que temos dúvidas, medos, incertezas, tal como o Rui dizia “…parece que hoje é Janeiro, está um frio de rachar…”. Mas felizmente tive amigos e pais que me ajudaram parcialmente, o resto a vida ensinou-me.
O ponto sensível do ateísmo é discernir que se nada é pecado continua na mesma a haver coisas que são erradas. Sensível porque se o ateísmo é negar a existência de deus(es) cai-se na facilidade de negar as doutrinas associadas também. È uma linha muito ténue. E negar essas doutrinas é errado. Primeiro porque os mandamentos mais importantes de qualquer religião baseiam-se em princípios cívicos e morais que não se tornam errados pelo ateísmo. Segundo porque as religiões baseiam-se nas palavras transmitidas por homens, e se as religiões elevam esses homens a deuses não deixam de ser homens pelo facto de o ateísmo negar deuses, mantêm-se homens e as suas palavras continuam válidas.
Tenho amigos que argumentam que se não me acredito em deus porque não o posso ver (não é apenas por isso, porque senão também não me acreditava em átomos) como posso explicar o amor?! Também não me poderia acreditar no amor, segundo eles. È realmente complicado traçar essas definições. Se recorrer unicamente ao cientista e naturalista dentro de mim, desprezo o amor e pareço um anormal frio e sem sentimentos. Se quero ser humano e não posso ignorar o amor, eles caem-me em cima com o argumento que deus é amor, e por isso eu sinto a deus logo ele existe. Também sinto a dor, será isso o demónio? Então eles são politeístas porque se cada sentimento é um deus, caímos no tempo dos romanos, com um deus para cada virtude.
O amor é maravilhoso. Amar é ser humano. Continuo a não me acreditar em deus e acredito-me à mesma no amor. Não preciso de o ver para isso. Também não é por ver a deus que não me acredito nele. Não me acredito porque prefiro um universo governado pela nossa vontade e não pela vontade omnipresente e toda poderosa. Faz mais sentido o livre arbítrio e a origem natural sem interferências divinas do que a outra versão.
E isso aguça-me os sentidos para a raridade e maravilha que é estar vivo. Amo a vida.

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