O Cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

"Carpe Diem".

Não existem contos de fadas. A vida real não tem contos de felicidade. O mais próximo que existe disso são contos de contentamento. Se não podemos ficar felizes pelo menos não ficamos descontentes.
È uma realidade que eu aceito e que não me entristece. Poderia ser desmoralizador o facto de me acreditar com antecedencia que a felicidade plena nunca pode ser alcançada. Mas não me desmoraliza. Talvez seja isso a maturidade, o aceitar que a luz que existe no mundo não é colorida mas afinal apenas em tons de cinza. O meu ponto de vista optimista é que se não tenho cor também não estou condenado às trevas.
Muita gente desespera porque algo na sua vida não é como esperavam, o amor, a riqueza, o casamento... E dizer-lhes que nunca vai ser só serve para acentuar esse desespero. Mas é a verdade.
Eu aceito o mundo como ele é. Mas não sou insensivel. Sofro como qualquer pessoa. Mas olho mais além, e acredito-me que o melhor está sempre para vir. È um pequeno alivio.
As histórias cor de rosa com fadas não existem. Pelo menos para um numero de pessoas que seja de considerar. Então resta-nos ou desesperar ou aceitar essa realidade. Eu escolhi aceitá-la. E vivo sem desespero.
Acredito-me numa filosofia que a pouco e pouco se tem tornado a minha unica religião. Uma filosofia introduzida por um poeta de seu nome Horácio já lá vão muitos séculos, diz ela:

"Tu ne quaesieris scire nefas quem mihi quem tibi
finem di dederint Leuconoe nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius quidquid erit pati.
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum: sapias vina liques et spatio brevi
spem longam reseces. dum loquimur fugerit invida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero. "

Traduzido:

"Não questiones, nefasto é saber, quer para mim, quer para ti,
o fim que nos reservam os deuses, Leucónio, nem os babilónios
horóscopos consultes. Quão melhor o que quer que venha é sofrer,
sejam inúmeros os Invernos, seja este o último que Júpiter nos atribui,
e que agora, contra as falésias, debilita a força do mar
Tirreno! Sê sábio, filtra os vinhos e restringe a momento breve
a vasta esperança. Enquanto falamos, terá escapado o invejoso
tempo. Aproveita o dia e não confies em nada do que é futuro."

4 comentários:

Anónimo disse...

o teu texto demonstrou maturidade... uma maturidade adulta, rebuscada e inteligente que busco incansavelmente de uma forma tranquila e serena!
não existem contos de fadas, é verdade... mas isso não faz que o cinzentismo preencha o meu mundo! pinto-o com as cores que o meu coração (e o dos outros, já agora) deixa... :)


"não questiones, nefasto é saber, quer para mim, quer para ti..."

mas eu questiono-me e quero saber... mais e mais... cada vez mais...
faço parte da humanidade (que se diz civilizada, racional e inteligente), mas ao assistir às notícias e ao ler os jornais, vejo diariamente as atrocidades primitivas de sempre, atrocidades seculares... acho que seria mais feliz se não soubesse de certos factos e se não me questionasse sobre certos assuntos. mas prefiro viver assim, mesmo que o cizento também faça parte do meu universo... olho o horizonte e esboço um sorriso! :)

abraços de um leitor assíduo,

fallen angel

Fernando "geniosoft" Pinheiro disse...

Caro Célio, Magno de nome e de pensar,

obrigado pelos teus comentários, transmitem realmente serenidade.

o saber é uma paixão. a minha vida roda em torno da paixão que é o conhecimento, a ciência. Tal como tu quero saber mais. Mas quero saber mais do que me rodeia e não do que me espera. E essa é a mensagem de Horácio, não ficarmos obcecados com o que irá acontecer e ainda não aconteceu, preocupando-nos, isso sim, em preencher com qualidade o presente.

Reconheço a minha fase de desencanto, que me leva a ver o mundo sem cor. Mas amo a vida e quero presentear o meu amor, vivendo cada instante com emoção.

O mundo é triste e (ironicamente) desumano. Mas cabe-nos a nós fazer dele melhor. Nem sequer estamos a fazer um favor a ninguém mais que nós próprios.

Abraços
De um poster ansioso pelos teus comentários...
nando

Anónimo disse...

mais um testemunho de maturidade, nando...
fazes do "carpe diem" um lema de vida, mas há que ter cautelas e não cair no radicalismo fácil... tudo isto por que o presente é feito do passado, com os olhos postos no amanhã... e, como tu próprio escreves, há que encontrar pontos de equilíbrio na vida! eu sei, tanto o teu presente, como o meu (espero) são construídos com uma base passadista e uma perspectiva vindoura...
sabes, eu admiro essa tua forma de estar de estar na vida... és uma pessoa diferente! olhando o contexto que nos circunda, talvez sejas uma pessoa à frente do teu tempo, da tua geração... e é por essa razão que me despertas curiosidade e uma vontade faminta de aprender e de te ouvir por que tens (quase) sempre uma palavra sábia para dizer... provavelmente, a minha admiração reside na tua diferença! admiro a tua lealdade na amizade, a tua vontade de a celebrar, a tua “veia” mais científica, a tua paixão pela vida e pelo ensinar... aluno e professor, assim te defines... mas um professor tem de procurar o equilíbrio para tentar induzir os seus alunos para tal virtude, mesmo que não pense e não viva assim... por que tu e eu queremos uma sociedade / humanidade melhor... justa, solidária, apaixonada, equilibrada... sinceramente, acho que a filosofia do "carpe diem" está intrinsecamente ligada ao epicurismo, doutrina que, para além de celebrar a vida, também professa o desregramento de costumes num certo grau!

"seize the day, boys... seize the day!" - dizia o professor keating... foi um incompreendido, é verdade! o filme faz parte do meu imaginário e talvez tenha sido o mote para optar pela profissão que, actualmente, exerço. se as tuas palavras são nesse sentido, tens o meu respeito! mas no filme houve uma morte, um cordeiro foi imolado em nome de um deus chamado "liberdade"... nada contra quem morre ou morreu na luta por tal ideal, mas era incapaz de incentivar um aluno meu a morrer por tal valor. era sim capaz de instrui-lo para, mais tarde, quando adulto, lutar (mesmo com a vida) pela liberdade... daí dizer que o presente deve ter os olhos sempre postos no futuro e não apenas no imediato, no agora... fiz-me entender? não sei, talvez me tenha perdido no meio dos meus escritos e não vou reler! espero que me tenhas compreendido...

"O ontem é história, o amanhã é mistério e o hoje é uma dádiva... por isso se chama presente!" -> até nesta frase temos de procurar o seu ponto de equilíbrio... não é fácil, daí ser estimulante! é esse estímulo que me faz sorrir, sonhar e continuar com vontade de viver! :)


abraços,

fallen angel

Fernando "geniosoft" Pinheiro disse...

Caro Célio,

Seja qual for o ideal, perde a razão quando levado ao exagero. O homem ao longo da sua história buscou continuamente melhorar ou evoluir, o indivíduo e a sociedade. Algumas das filosofias favoreciam o indivíduo, outras o grupo. O Epicurismo, ou o humanismo parecem-me ser escolas que favoreciam o indivíduo. O comunismo ou a democracia são filosofias que se aplicam à sociedade. A história já nos ensinou que algumas dessas filosofias falham quando postas em prática. Mas o seu princípio de igualdade e melhoria da condição humana é ainda assim louvável.

O mal acontece quando se sobrepõe a filosofia à própria realidade. Se acreditamos demasiado em algo podemos cair no exagero e vendados pelas obstinação em promover o bem através de determinada doutrina não enxergamos o mal que praticamos com o seu exagero. Cada passo da nossa vida deve ser medido, se avançamos muito depressa devemos fazer uma pausa. Se nos enganamos na direcção tomada precisamos das pausas para reavaliar a direcção correcta a tomar. A teimosia é uma falha pessoal que prejudica a felicidade comum.

A justiça na mitologia é representada com uma balança, símbolo do equilíbrio. A felicidade comum só pode ser atingida se o mundo for justo, e a justiça só é possível através do equilíbrio. Para haver equilíbrio é necessário pesar o conhecimento, de uma forma matura, responsável, tirando lições do passado para as aplicar no presente, melhorando o futuro. Assim melhoramos o presente e preservamos a qualidade do nosso futuro.

Qualquer das filosofias sobre a felicidade são o resultado de um trabalho inacabado. Uma das lições que a história da ciência nos ensina é que não existe nenhum conhecimento exacto e definitivo. O modelo teorico vai-se cada vez mais aproximando da realidade mas nunca é exacto. Exemplos disso: A forma da terra, inicialmente pensava-se que ela seria plana e esse conhecimento não estava totalmente errado, era apenas resultado de uma observação limitada. Quando se circumnavegou o globo podemos provar a sua esfericidade. E a teoria ficou muito mais próxima da realidade, mas ainda assim não exacta. A Terra não é uma esfera mas sim um elipsoide, mas até ao advento dos satélites que medem a Terra com uma precisão muito superior ao que era posssivel na idade média não o podíamos saber. As teorias nunca estão completas, mas vão-se aproximando da realidade cada vez mais.
O “carpe diem” não é uma doutrina absoluta. È preciso ter a noção disso para não se cair no exagero. È preciso salvaguardar a integridade do futuro. Mas isso é apenas uma evolução na teoria que já estava próxima da realidade e agora se torna mais exacta.

A cada passo em frente estamos mais próximos.

Abraços amigo Célio,
Obrigado pelas palavras amigas e sábias.
Nando aka geniosoft